Sempre adorei papéis. Papéis, canetas, blocos, cadernos.
Quando era pequena fazia colecção de papéis de carta. E que bela colecção que eu tinha. Havia alguns que eram muito valiosos e ficavam a meio do dossier (para não se estragarem) e eu colocava-os numa mica especial (que ia substituindo de tempos a tempos. Papéis de carta valiosos não podem ficar expostos em micas riscadas).
Eram impagáveis os meus papéis de carta. E tanta inveja que as outras crianças tinham deles.
Eu gostava de os ver e cheirar (porque muitos deles tinham perfume) e, acima de tudo, de os exibir.
Mas mania dos papais de carta foi passando e fui começando a coleccionar outros tipos de papéis. Papéis secretos, não-exibíveis.
Eram cartas e recordações, eram bilhetes e histórias.
Antigamente tinha uma caixa. Era de madeira e tinha o meu nome gravado por cima. Comecei a guardar ali as minhas recordações papelísticas. Mas a caixa encheu rápido demais e pus-me a pensar: Talvez isso de guardar papéis numa caixa não seja boa ideia. A caixa era como uma recordação gigante e proibida. Uma recordação triste-alegre que trazia lágrimas e sorrisos, arrepios e suspiros. Continha palavras proibidas e segredos selados. Desenhos rabiscados e declarações apaixonadas. Um buraquinho intenso demais para um comum mortal. Resolvi abandonar o dito objecto numa gaveta e pus-lhe um aviso em cima com a frase “material potencialmente perigoso”.
Espalhei os meus segredos pela casa, pelas roupas, carteiras e malas. Para, quem sabe, serem encontrados um dia.
Guardei cada segredo num canto refundido, cada recordação num pedacinho de espaço invisível. Talvez um dia os volte a encontrar, ou talvez as recordações fiquem para sempre escondidas no labirinto dos segredos e das memórias. Não sei.
Tudo isto porque ontem ofereceram-me um post-it. E agora não sei onde o colocar. (ou esconder).
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