Voltar.
Voltar para um quarto grande e uma cama de casal. Voltar para a máquina de fazer água e para o duche com cortina. Voltar para o mar e para o meu carro azul.
Voltar.
O sentimento invadia-me, entrava pé ante pé pelas pontas dos dedos percorrendo o corpo e dominando-o de uma forma incontrolável. Eu estava feliz (lá bem no fundo).
O mundo girava e parecia turvo, numa sinfonia de sons inaudíveis e pensamentos que se atropelavam. O que fazia eu ali?
Precisava de sair, de procurar, de descobrir o código chave para desligar a o mecanismo aquático que insistia em verter liquido transparente. E ver aquela cara amiga fazia-me sentir bem. Queria falar e contar tudo, tentava controlar a voz e faze-la parecer natural. O som provinha de uma angústia abafada, de uma lágrima seca, de um misto de recordações.
O carro parou e um simples sorriso foi um bilhete de entrada para o mundo real.
Chega de noites sem dormir, de garrafões de cinco litros, de copos partidos, de jogos multilingues. Chega de ouvir musica no sofá da casa decorada, chega de autocarros, de eléctricos e de aperitivos.
Bem-vinda ao mundo onde os amigos são para sempre e não vão fugir passados alguns meses, onde as conversas valem mais do que uma dança, onde o ponto de encontro é o café e não o bar da esquina ou a casa do vizinho.
Tinha chegado ao mundo das caras familiares, onde cada olhar trazia uma recordação, onde cada cheiro me fazia sentir em casa. Estavam ali para dizer, em palavras brilhantes de sorrisos e abraços, que há coisas que nunca mudam, felizmente. E enquanto os abracei um a um, num gesto emocionado de quem sabe que acabou, quis parar tudo, olhar para cima e dizer: obrigada. Não sei porque tive sempre tanta sorte, não sei porque foi sempre tudo tão especial, não sei explicar este movimento de vai e vem que me faz acordar a cada dia e pensar “vale a pena”.
Suscribirse a:
Enviar comentarios (Atom)
2 comentarios:
Ainda não te abracei desde que chegaste, mas amanhã vais ver.. Adoro o que escreves. Tenho lido tudo.
Ainda nem te vi. Vi hoje a Inês e andei mesmo perdida de todos este semestre. Espero que amanhã vás à faculdade. Ando cansada. Com saudades das tuas mil histórias no comboio. Para poder saber tudo...
Ps - também tenho lido tudo...
Publicar un comentario