Sou marginal. Marginal e vadia na rua das mentiras e dos enganos.
Tenho uma pele que arrepia e estremece a cada grão de areia que se cola. A praia tem pouca areia, é um facto. As famílias comem-na lambuzam-na, escorregam-na para o mar revolto. A onda vem e vai num ritmo congelante de circulação parada. E o sol frita.
Existem certos rituais que são imagem fotográfica. Croquetes de areia e mãos que abrem e fecham num deslumbre preocupante pela fisionomia humana.
Sou um cigano itinerante, um velho bigode alongado de saltos e nuvens de perfume. Perfumes nostálgicos e molhados. De línguas e lágrimas que escorregam em segredo pela pele queimada. Mas está frio. Muito frio. O ambiente começar a tornar-se inóspito. Quando o perfume se vai, qual nómada atrevido, vou-me com ele em viagens de violinos e acordeões. Há um fantasma que me segue. Um fantasma secreto que me faz cócegas pelo corpo quando passa por mim como uma brisa daquele mar remexido de sábado à tarde.
Às vezes o fantasma passa por mim, faz-me rir com caretas e histórias incontáveis. E eu penso: O romantismo já não está na moda.
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1 comentario:
quando os ciganos se vão tudo o que resta são as memórias das festas caóticas de perfumes inebriantes. memórias que aquecem a areia da lua obrigatoriamente cheia.
"La vita e' troppo piccola per non essere felice".....ainda bem que existem ciganos itinerantes...
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